Analisando a queda: Anderson Silva

Na noite deste sábado, o mundo testemunhou a derrota do maior campeão que o Ultimate Fighting Championship já teve: o brasileiro Anderson Silva. Detentor do cinturão dos pesos médios (83,9kg) com dez defesas de títulos conquistadas (e mais algumas vitórias acachapantes na categoria dos meio-pesados), o “Aranha” foi derrotado por Chris Weidman, que com um soco colocou seu nome na história do MMA – sim, um soco, pois aqueles no chão foram apenas para “marcar”.

Quero começar justamente analisando a sequência final da luta:

Primeiro, Anderson é atingido por um cruzado bem leve de esquerda, que Weidman desferiu provavelmente mais para acertar a distância, como se fosse um “jab” (golpe direto com a mão da frente – no caso da guarda usada pelo americano, a esquerda). Neste momento, ele finge ter tonteado, para desestabilizar o adversário.

Na sequência, Weidman tenta mais um cruzado de esquerda e um de direita, além de mais um soco “estranho” com a direita, que em minha opinião seriam até mais perigosos que o primeiro golpe, se acertassem. Anderson se esquivou destes três golpes, com a velocidade que já é conhecida, mas de forma displicente. O fim do movimento de esquiva decretou o fim da luta, como fica fácil ver na imagem abaixo.

analise-anderson-weidman

Capturei o frame deste exato momento em que o americano iria desferir o último golpe. Vejam que, em virtude do movimento de esquiva (e de estar dançando), o brasileiro está totalmente vulnerável: apoiado nas pontas dos pés, pernas já flexionadas, corpo para trás e o pior: sem ter mais para onde ir e bem de frente para o Weidman. Por outro lado, o americano está na melhor posição possível para acertar o golpe: pé da frente apontando para o Anderson e o tronco já flexionado para um novo cruzado (cruzadinho!) de esquerda.

Um cruzado como o primeiro, que iniciou a sequência. Inofensivo se o Spider estivesse em posição de guarda, ou se tivesse se esquivado para o outro lado, mas mortal naquele momento e local em que ele estava. Pegou em cheio, no queixo, e aí não tem chance. Bum!

Desrespeito?

Quem acompanha a carreira de Anderson Silva, sabe que o que ele fez nesta luta não foi nada além do que fez com tantos outros. Não considerei um desrespeito ao adversário (talvez o tenha subestimado, nisso concordo). Aliás, para falarmos em desrespeito por parte do Anderson, é interessante relembrar a defesa de cinturão contra o também brasileiro Demian Maia.

Naquele episódio, Anderson desrespeitou claramente seu adversário no octógono, foi vaiado, deixou Dana White P* da vida e posteriormente pediu desculpas. Para se ter uma ideia, o presidente do UFC não subiu ao octógono para entregar o cinturão ao campeão, como sempre havia feito até então, e declarou que não queria AQUELE Anderson Silva lutando no UFC.

Sorte, azar?

Anderson não teve azar. Ele cometeu um erro, simplesmente. Erros que qualquer um está sujeito a cometer, e que com certeza ele não repetirá em outra oportunidade.

Weidman também não teve sorte, ou pelo menos não foi isso que o fez vencer. O americano tem sim muito mérito, em primeiro lugar por não ter caído no jogo psicológico. Em segundo, por ter acreditado na luta em pé, pois quem apostava em sua vitória pensava em um fim de luta no chão.

Opinião de quem assiste, admira e pratica (um pouquinho) de artes marciais: o cruzadinho do Chris Weidman era o último recurso daquela sequência, pois ele não teria posicionamento para emendar outro golpe se aquele passasse em branco. Talvez esta tenha sido a única “sorte” dele naquele momento.

Resultado vendido?

Em minha opinião, e seguirei com ela até que se prove o contrário, dizer que Anderson Silva vendeu esta luta é uma besteira, e quero enumerar alguns motivos:

  1. Se o Spider vencesse, o próximo passo seria uma superluta contra Jon Jones ou Georges St. Pierre. Se contarmos bolsa + bônus (alguém duvida que seria a luta da noite?) + patrocínios + pay-per-view, esta superluta renderia muito mais dinheiro aos lutadores e ao próprio UFC do que um resultado comprado contra Weidman. Renderia mais inclusive do que a provável revanche entre os dois.
  2. Anderson Silva tinha a chance de manter seu cinturão por mais lutas e até mesmo de decidir se aposentar com 15, 16, 17 defesas de cinturão. Ele seria considerado uma lenda (ainda vai ser, de qualquer forma), e creio que para um atleta profissional não há dinheiro que compre isso. E ele já deve ter bastante dinheiro, se for o caso.
  3. Vamos lá, suponhamos que eu fosse um lutador e quisesse me vender. Eu preferiria me deixar ser pego em uma finalização e simplesmente bater (desistir) do que apagar com um cruzado no queixo. Vocês não?

E se você ainda acredita que o resultado da noite passada foi comprado, dou o seguinte conselho: Não pague mais para assistir ao UFC, seja pela televisão no pay-per-view ou comprando ingresso em uma arena. Se você fizer isso, vai estar gastando dinheiro com algo que você acredita ser uma mentira, e aí você seria um burro. Ok?

Anderson caiu como qualquer grande campeão pode cair (aliás, St. Pierre será o próximo, contra Johny Hendricks). Isto só prova que ele é humano, mas não tira dele as grandes glórias conquistadas em uma vitoriosa carreira.

Ídolos nacionais e mundiais tiveram que engolir derrotas. Guga perdeu, Senna perdeu. Mike Tyson, Michael Jordan e tantos outros. Nenhum deles deixou de ser gênio em sua arte por causa disso.

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